ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA AMIGOS DO ÓRGÃO

“TUDO O QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE O ÓRGÃO,

                                                                                                    E TEVE MEDO DE PERGUNTAR…”

António Mota Novembro de 2000  - 9/21

Ou

“34 Perguntas Embaraçosas sobre Órgãos de Tubos”


Da Característica de Som de um Tubo Tapado

P11: Muito interessante, Mestre. Mas, voltando aos tubos labiais, o da direita naquela figura parecia tapado. Porquê?


R11: Os tubos labiais existem nas variantes de aberto ou tapado, sejam eles feitos de madeira ou de metal (liga de estanho e chumbo). Ao tapar-se a extremidade de um tubo labial tem-se como consequência directa que o som obtido soa uma oitava abaixo do que soaria num aberto do mesmo comprimento (basicamente porque a onda pode reflectir na extremidade e percorrer o caminho de volta em direcção à boca, acabando por percorrer a mesma distância que no caso dum aberto).

Isto permite realizar órgãos mais compactos e económicos, facilitando a instalação de tubos dentro de caixas expressivas, por exemplo, ou usando-se para os registos graves da pedaleira (um tubo aberto de 16’ mede quase 5 metros, contra 2,5 dum fechado). Mas não são só vantagens!

Uma característica acústica de qualquer tubo tapado é que apenas pode produzir harmónicos de ordem ímpar (1º, 3º, 5º, etc.), pelo que um tubo fechado será sempre menos brilhante por natureza que um tubo aberto. Claro que esta questão não se deve colocar apenas no campo das vantagens e desvantagens, devendo também ser visto como mais um meio para se obter variedade tímbrica.

Por exemplo, o Quintatão é um registo de metal tapado que existe em 16’ ou 8’ e em que o 3º harmónico (quinta mais uma oitava acima da fundamental) está muitíssimo presente.

No domínio do tempo e da frequência, um registo deste género, versus um hipotético gerador de sons puros sinusoidais (som sem harmónicos de ordem superior) e versus um registo brilhante como a Viola da Gamba têm, aproximadamente, o seguinte “aspecto”:

P12: Viola da Gamba, Mestre?! Os tubos podem imitar as cordas?


R12: Muitos nomes de registos sugerem instrumentos de orquestra, por haver alguma semelhança tímbrica (nalguns casos muita, noutros nem por isso). Sistematizando mais esta problemática dos tubos labiais, estes podem ser do tipo aberto ou tapado, de madeira ou de metal, sabendo já nós que estes atributos têm, a priori, consequências directas na qualidade do timbre (ligeiramente mais rico num de metal em relação a um equivalente de madeira, e bastante mais num aberto em relação a um tapado). O terceiro factor muito determinante do timbre é a forma do tubo.

Por motivos de facilidade de construção, os de metal apresentam normalmente  secção redonda, seja constante (tubo cilíndrico) ou variável (tubo cónico normal – tubo que estreita para o topo - ou cónico invertido – tubo que abre em pavilhão). Mas também podem existir em formato prismático (triangulares invertidos), piramidal (quatro faces e vértices, estreitando para o alto), etc., etc..

Já os tubos de madeira são normalmente rectangulares, sendo que os seus quatro lados apresentam na maior parte dos casos uma largura uniforme ao longo do corpo. Mas também podem estreitar-se ou alargar-se para o topo. Nota curiosa, por vezes os tubos de madeira são revestidos interiormente por uma fina chapa de metal.

Outro pormenor é que os tubos, tanto de metal como madeira, podem ser não só do tipo aberto e tapado mas também meio-tapado (ou meio-aberto), sendo neste caso rematados no seu topo por uma chaminé. Na nomenclatura germânica, qualquer registo com prefixo ”Rohr” no nome é deste tipo.

Noutras nomenclaturas, faz-se na designação do registo uma alusão directa à chaminé.

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