O Minho tem, provavelmente, centenas de órgãos. A região está polvilhada de igrejas, conventos, museus, pousadas, lugares onde sempre habitaram um órgão simples ou de tubos. Os anos da ditadura deixaram-nos ao abandono, mas a liberdade trouxe uma consciencialização do valor do património e gerou um movimento que lutou pela recuperação de velhas casas, capelas, mosteiros e igrejas. Com estes investimentos foi, por arrasto, a recuperação de verdadeiras preciosidades da música religiosa. Manuel Fonseca é o único organeiro do Minho. passa a vida entre a sua oficina, em Barcelos, e as igrejas ou lugares onde há um órgão para recuperar. Aprendeu a arte sozinho - por incrível que pareça, lendo e mexendo em velhos órgãos destruídos pelo tempo. Para recuperar um instrumento musical deste tipo é fundamental saber acústica. O organeiro não poderá ter tido maior sorte na sua profissão senão a de ter frequentado ainda muito novo, o Seminário de Braga. "Por todo o lado havia órgãos. Tocava-lhes e a maioria não funcionava. metia.-me impressão porque é que tantos órgãos, instrumentos preciosíssimos, não funcionavam. Isto nunca mais me saiu da cabeça e quando pude aprendi sozinho", garante o mestre organeiro, que confessa: "Até a França fui buscar livros e aprender técnicas. Queria perceber como é que o instrumento funcionava. Passei noites a fio a mexer e a aprender." Manuel Fonseca teve um mestre que não mais esquece: Jean Renaud. "Fiz um estágio em Nantes (França) com o mestre. Aprendi muito e queria saber e confirmar". garante deslumbrado pelas recordações desses tempos. Hoje trabalha para todo o país e tem um conjunto de jovens consigo, a quem não se inibe de ensinar a arte. Neste momento está a recuperar o órgão da Igreja Matriz de Esposende, uma peça de 1794. Mas os seus trabalhos passaram por outros lugares de cujas tarefas se orgulha muito. E recorda a recuperação do órgão do Mosteiro do Senhor Bom Jesus da Cruz, em Barcelos, uma peça de 1730; da Igreja da Casa de Saúde do Telhal, em Sintra, um órgão de 1934; da Igreja Conventual de S. Francisco, em Guimarães, uma peça de 1724, Igreja do Convento do Salvador, em Braga, órgão de 1736; Igreja da Misericórdia do Porto, de 1889, ou um órgão novo, que está a acabar de construir para a Igreja dos Anjos, no Porto. Mas Manuel Fonseca tem um desejo: trazer à luz do dia o órgão do Convento de Vilar de Frades, em Barcelos, uma obra do séc. XVI, destruída em 1940, cujos tubos de estanho desapareceram, porque os operários da construção civil que ali laboravam na altura os levaram escondidos no bornéu para vender ao quilo, porque nesse tempo o metal era bem pago para o fabrico de armas de guerra. "É uma obra notável que já estudei e que teria muito gosto em reconstruir, porque tem uma história fabulosa para contar", garante Manuel Fonseca. (JORNAL PÚBLICO, Francisco Fonseca,1JUL03, PG64) |
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