Manuel Faria

Nasceu em S. Miguel de Seide em 1916.

Fez estudos gerais e de música no Seminário Arquidiocesano de Braga.

Terminou o curso de Teologia naquele estabelecimento de ensino, seguiu para Roma em 1939, onde estudou no Instituto Pontifício de Música Sacra, nomeadamente com Rafael Casimiri e Licinio Recife, obtendo o diploma de maestro em composição e a licenciatura em canto gregoriano.

Em 1945 regressa a Braga onde é nomeado professor do Seminário, iniciando uma intensa e múltipla actividade no ensino, na direcção coral, na animação musical religiosa, dedicando-se ainda intensamente à composição, à crítica musical,etc.

Foi bolseiro do Instituto de Alta Cultura e ainda da Fundação Gulbenkian para estudos que realizou mais tarde em Itália, com Boris Porena (aluno de Petrassi).

Foi Prémio Nacional de Composição "Carlos Seixas" da Secretaria de Estado de Informação e Turismo, em 1971.

Foi director durante anos do Orfeão de Braga, e foi um dos fundadores e directores da "Nova Revista de Música Sacra" publicada em Braga, além de animador de movimentos vários entre os quais a criação de grupos corais populares e cursos de órgão destinados a amadores das aldeias.

Regeu durante anos um Curso Livre da Harmonia destinado a estudantes de Humanidades, Filosofia e Teologia dos Seminários.

A produção de Manuel Faria como compositor alargou-se aos mais variados domínios da expressão musical, da música pura à música funcional e de circunstância, da música coral e sinfónica à música de ópera: missas em latim e em português para coros com órgão ou orquestra, motetes, responsórios, inúmeros cânticos religiosos destinados às cerimónias litúrgicas; entre as centenas de breves páginas de música religiosa popular que escreveu não raras vezes se podem encontrar pequenas jóias de música coral.

O tratamento coral e sinfónico da música popular foi uma constante das suas preocupações, quer integrando-se quer estilizando-se em obras de formação sinfónica, quer em formações corais, domínio em que Manuel Faria está na primeira linha dos compositores portugueses.

Um melodista nato, manejando com destreza uma certa técnica contrapontística, os modelos clássicos e algumas aquisições das primeiras décadas deste século nomeadamente a politonalidade, processos neoclássicos, a série de doze sons, Manuel Faria consegue imprimir à sua música o carácter a um tempo popular e erudito, numa síntese por vezes extremamente eficaz.

Isto está já presente nas obras da juventude, antes de partir para Roma, ainda autodidacta, e cuja inspiração melódio-harmónica e até formal, não é inferior a muito do que virá a compor bastantes anos mais tarde.

É sobretudo de raro requinte o seu tratamento de pequenas formas populares ou textos latinos, do melhor no género em Portugal.

Uma sólida formação clássica reflete-se não só na sua obra de compositor (estética e filosoficamente inacabada) como na sua actividade crítica servida por uma aguda compreensão do fenómeno interpretativo (é vulgar a sua sensibilidade e perspicácia), e por uma expressão literária que lhe advém de sólida formação humanística.

Manuel Faria foi indubitavelmente um dos maiores músicos portugueses, cujo talento de compositor, circunstâncias e factores impediram de desenvolver e realizar integralmente, facto que uma intensa actividade nos mais variados sectores musicais explica em parte.

Este enorme talento de compositor tem sido, efectivamente, ofuscado por outras actividades (sem esquecer o fantasma do binómio Lisboa-província, disso vítima Manuel Faria), mas que a sua produção múltipla e multifacetada deixa claramente advinhar.

A resposta para um certo inacabamento do seu pensamento (no sentido de ir mais longe, mais ao fundo das coisas), estará nos sistemas dentro dos sistemas, de esquemas, desde as estruturas mentais às estruturas do Estado, passando pelos sistemas políticos, religiosos, culturais, económicos, e passando, muito provavelmente, por opções pessoais.

Isto independentemente de legitimamente se conservar na órbita de neoclassicismo e do nacionalismo musical de que se não afastaram compositores da mesma geração ou das mesmas tendências: Lopes Graça, Frederico de Freitas entre outros, ao lado de quem Manuel Faria, como músico "tout court", deve definitivamente ser colocado.

(notas do programa lsb03_01dez01)

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Comentários a obras: Tríptico_litúrgico (Jorge Alves Barbosa,2002)

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