Francis Poulenc(07/01/1899, Paris-30/01/1963, Paris)


Embora só entre 1921 e 1924 tenha feito estudos musicais sistemáticos, Francis Poulenc frequentou desde a adolescência os meios artísticos parisienses, tendo presenciado acontecimentos musicais de grande significado como, por exemplo, a polémica apresentação da Sagração da Primavera de Stravinsky, em 1913.

Tendo feito a sua primeira aprendizagem musical na infância, com a mãe, começou aos 16 anos a estudar piano com Ricardo Viñes, um dos mais célebres pianistas da época, amigo e intérprete de Debussy e Ravel.

Em 1917-18 conhecia Satie e os músicos com quem viria a associar-se num grupo que ficou conhecido por Les Six, formado por ele próprio, Auric, Durey, Thailleferre, Milhaud e Honegger.

A música de juventude de Poulenc reflecte as influências de Satie e das correntes então em voga na Europa, manifestando, segundo Mosco Carner, a sua "forte predilecção pela música do circo, das feiras e do music-hall" e a sua adesão à estética dos membros do Grupo dos Seis que "cultivavam deliberadamente o banal, o lugar-comum e o brutal, amando simultaneamentea a graça da musiquette".

Porém, com a maturidade, e ainda segundo Mosco Carner, o estilo de Poulenc "desenvolveu um inconfundível toque pessoal, composto de humor e gravidade, de simplicidade e de sofisticação" que conduziu a sua obra, a pouco e pouco, para vias diferentes.

Esta modificação no seu estilo não foi apenas o resultado da evolução natural do pensamento musical de Poulenc, mas reflectiu uma série de acontecimentos de ordem pessoal que, em meados dos anos 30, o afectaram e que o levaram a introduzir profundas alterações na sua vida, nomeadamente em relação à religião.

O próprio compositor evoca a forma como, na época, regressou à fé da sua infância:" Sou religioso por instinto profundo e por atavismo. Da mesma forma que me sinto incapaz de uma convicção política ardente, assim me parece natural acreditar e praticar. Sou católico. É a minha maior liberdade. No entanto, a doce indiferença da minha família materna conduziu-me, naturalmente, a uma longa crise de negligência religiosa. De 1920 a 1935 preocupei-me muito pouco, confesso, com as coisas da fé. Em 1936, data capital na minha vida e na minha carreira, aproveitando uma estada de trabalho com Yvonne Gouverné e Bernac em Urzeche, pedi a este que me levasse de carro a Rocamadour [...]. Rocamadour provocou o meu regresso à fé da minha infância. O santuário, certamente o mais antigo de França, tinha tudo o que era necessário para me subjugar. Pendurado, em pleno sol, uma vertiginosa encosta de rocha, Rocamadour é um lugar de paz extraordinário [...]. Na própria noite da visita a Rocamadour comecei as Litanies à la Vierge Noire, para vozes femininas e órgão. Nesta obra tentei transmitir o aspecto de "devoção rústica" que tanto me tinha marcado naquele local".

Pierre Bernac, amigo e intérprete de muitas das canções do compositor, diz que, a partir desse momento "um outro artista coexiste [...] em Poulenc que, sem renegar o primeiro, se desenvolverá paralelamente e assumirá o seu atavismo paternal. Usará a mesma linguagem musical mas atingirá a autêntica grandiosidade. Dentro desta linha é necessário citar naturalmente primeiro a sua abundante obra religiosa para coro a cappella (missa, motetos, laudas, orações), ou para coro e orquestra (Stabat Mater, Gloria, Repons des Ténèbres) [...]".

Adriana Latino



STABAT MATER (c. 30 min.)

Poulenc escreveu em 1950 o Stabat Mater (sobre o texto da sequência da festa das Sete Dores de Maria, a 15 de Setembro), para soprano, coro misto e orquestra.

A obra é, segundo Roger Nichols, " poderosa e comovedora", refectindo simultaneamente grandiosidade e simplicidade e transmitindo, por um lado, a sensibilidade do compositor ao conteúdo dramático do texto e por outro, a sua capacidade de transpor para a música, a profunda emoção do mesmo.

Adriana Latino

notas do concerto alcobaça_12abr03