Gabriel Fauré(12/05/1845, Pamiers-04/11/1924, Paris)
REQUIEM (c. 40 min.)
As actividades de organista e de compositor coexistiram em Gabriel Fauré, tal como em muitas figuras do panorama musical francês do séc. XIX.
Organista de coro na Igreja de St. Suplice, em Paris, onde ficaram célebres as improvisações em conjunto com Widor (organista do Grande Órgão), tornou-se mais tarde organista da Igreja da Madeleine.
Apesar desta actividade, não chegou até nós nenhuma obra de Fauré para aquele instrumento, mas as suas muitas obras para coro e órgão, como a Messe Basse (1907), revelam um sólido domínio do instrumento, considerado sem pedaleira obligato por razões comerciais que aconselhavam a possibilidade de adaptação do harmónio, a par do sabor elegante da escrita do compositor.
Os efectivos da Madeleine, um coro de cerca de trinta vozes infantis e algumas vozes masculinas, aos quais se juntavam reforços nas festividades, foram os primeiros executantes da maior parte dessas obras.
Assim sucedeu com o Requiem, cujo núcleo principal ( Intröit et Kyrie, Pie Jesu, Sanctus, Agnus Dei e In Paradisum) foi composto entre 1887 e 1888.
A orquestração desta primeira versão, executada sob a direcção do autor, a 16 de Janeiro de 1888, no decurso de uma Missa de Defuntos, compreendia, para além do órgão, violas e violoncelos divisi, harpa e timbales.
A este conjunto, Fauré adicionou duas trompas e dois trompetes para uma nova execução, executada em Maio do mesmo ano.
O Offertoire, já esboçado em 1887, foi completamente concluído vários anos mais tarde.
O Libera me, originalmente escrito em 1887, para barítono e órgão, foi integrado no Requiem em 1891.
Para esta secção, Fauré juntou três trombones ao conjunto utilizado no restante material.
O Requiem só veria assim a sua estrutura e orquestração completamente estabilizadas por volta de 1893.
Esta orquestração, que não contava com violinos nem madeiras, foi utilizada em sucessivas execuções, na Igreja da Madeleine, até ao fim do séc. XIX.
Mais uma vez por razões comerciais, o editor de Fauré, Hammelle, aconselhou-o a escrever uma versão mais adaptável a uma orquestra sinfónica, de modo a facilitar a execução da obra em concerto.
Esta versão só seria publicada em 1901, provavelmente pela mão de Roger Ducasse, aluno de Fauré, embora com a assinatura deste último.
É esta orquestração mais alargada que actualmente se utiliza na generalidade das apresentações do Requiem.
Parte do carácter intimista da versão original foi sacrificado, em função de um maior impacto sonoro.
Também ficou mais reduzido o papel do órgão, que aqui só se evidencia no Pie Jesu e no In Paradisum, sendo, noutras situações, um pouco submergido pela orquestra. No entanto, algumas linhas da textura orquestral são por vezes concedidas exclusivamente áquele instrumento.
A obra inicia-se com um poderoso uníssono da orquestra, a seguir ao qual o coro murmura as palavras iniciais do Intróito.
Uma cadência prepara o Kyrie, construído sobre um motivo exposto inicialmente pelo órgão.
O Ofertório inicia-se com um cânone entre os contraltos e os tenores. Segue-se um solo de barítono, no decorrer do qual se faz ouvir uma melodia já utilizada na secção central do Kyrie.
Esta mesma melodia é vagamente citada pelos violinos no Sanctus, enquanto o coro executa um cânone sobre um fundo de arpejos.
O Pie Jesu, sem dúvida uma das secções mais famosas da obra, é um solo de soprano com acompanhamento de órgão. É claramente evidenciado aqui, assim como mais á frente no Libera me, um tipo de encadeamento de acordes muito característico de Fauré.
A lírica melodia exposta pela Orquestra no início do Agnus Dei é largamente desenvolvida no decorrer da secção, que termina com uma referência ao início do Intróito.
Após o carácter solene e trágico de Libera me, a secção final, In Paradisum, com os delicados arpejos do órgão e a singela melodia entoada pelos sopranos, vem trazer um incomparável clima de serenidade à conclusão do Requiem.
Foi talvez esta página, uma das mais belas da obra, que inspirou o célebre comentário de alguém que classificou o Requiem de Gabriel Fauré como uma "berceuse de la mort".
notas do concerto alcobaça_12abr03