Louis-Claude d'Aquin (1694-1772)

Depois da morte de Louis-Claude d'Aquin em 1772, as tempestades que faziam a França e a Europa entrar em convulção, depressa implusionaram a glória e a música deste compositor, até ao extremo.

Um novo gosto se instalava , delibaradamente desdenhoso da arte antiga.

Foi só por volta do fim do séc. XIX que Alexandre Guilmant, seguido por André Pirro, começaram a relembrar os tesouros do orgão francês e do cravo da época clássica.

Foi um projecto genial, corajoso e difícil, tendo em conta que só por volta de 1950 é que se dá ao reaparecimento do cravo e do órgão clássico.

Entre estes músicos redescobertos, d'Aquin é tão bem conhecido com particularmente apreciado.

Hoje, a noção de arte perdeu-se no brilho racionalista, é preferível ser um técnico do que ser alguém que aprecia arte.É uma moda fortemente utilizada pois quanto mais gera a confusão, mais fácil é atribuir valor ao que não o tem.O que agrada (ou seja, o que dá prazer) é pura e simplesmente condenado.

D'Aquin não é (ou não aparenta ser) tão erudito.

O público do séc. XVIII, e será difícil para nós imaginar como ele era composto por conhecedores, durante toda a sua longa carreira, devotou-lhe uma admiração entusiástica.

Eles adoravam tanto ouvi-lo tocar, que na Igreja de St. Paul, tiveram que chamar as autoridades para manter a ordem.

Graças a André Pirro, podemos ter alguma informação acerca da vida de d'Aquin, como foi descrita pelo pároco de Fontenai no seu "Dictionaire des Artistes" (1776) ou no ensaio de música de Laborde (1780).

Ele nasceu em Paris, a 4 de Julho de 1694, o ano em que Campra foi designado para mestre de coro em Notre-Dame.

Um dos seus antepassados, Philippe d'Aquin, originário de Carpentras, foi pároco de Avignon. Mais tarde, foi executado pelos correligionários por se ter convertido, foi para Paris em 1610 e ensinou hebraico no Royal College de França de 1627 até à sua morte em 1650.

O seu tio-avô, Antoine d'Aquin, foi médico de Louis XIV e Conselheiro de Estado. A Madame de Sévigny e Saint-Simon fazem uma breve alusão a ele e pouco amistosa.

O seu pai, um viajante aventureiro, após um naufrágio na Tunísia e a sua ruína, instalou-se um Paris e vivia da sua pintura.

A madrinha de d'Aquin, Elisabeth Claude Jacquet de la Guerre, uma cravista, de quem Louis XIV e a sua Corte eram grandes admiradores, inspira-o desde muito cedo, pelo gosto da música e começa a ensiná-lo com o capelão de Sainte Chapelle.

Aos 6 anos, ele já toca para o Rei, o qual ficou atónito.

Bernier, o mestre de música na Sainte Chapelle, deu-lhe lições de contraponto e composição após o prodígio lhe ter apresentado, com apenas 8 anos de idade, um Beatus Vir composto para grande coro e sinfonia.

Com 12 anos, substituiu Marin de la Guerre, o marido da sua madrinha, no órgão da Sainte Chapelle , que ficou célebre pela magnificiência dos seus serviços.

Ao mesmo tempo, os cónegos de Petit Saint-Antoine, chamam-no para o órgão deles.

Em 1727, competiu com Rameau para o lugar de organista da Igreja de Saint-Paul.

Apesar do tema da fuga, que lhes foi pedido para improvisar, ter sido comunicado com antecedência a Rameau, d'Aquin "teve a honra e a glória de triunfar sobre o seu ilustre rival".

Marchand, que ele considerava como um mestre, admira-o, particularmente "por causa de um Quinque no qual todos os encantos da melodia estavam combinados com aprofundidade da harmonia".

De acordo com o desejo de Marchand, depois da sua morte em 1732, d'Aquin sucedeu-lhe no orgão da Igreja dos Cónegos.

Em 1735, publica o seu "Premier Livre de Pièces de Clavecin", dedicado à sua aluna Mademoiselle de Soubise , e precedido por uma preciosa anotação: "Muitas destas peças são difíceis de tocar mas se tivermos o cuidado de bem posicionar os dedos, a execução tornar-se-á mais fácil do que parece na pauta...A verdadeira elegância de tocar cravo consiste, a meu ver, no toque, que é muito difícil de adquirir...Eu humildemente imploro a todos os que desejam tocar as minhas peças que executem as passagens rápidas com tanta precisão e delicadeza como as outras e devem convencer-se de que a elegância e o toque do cravo devem ser tão importantes como nas peças ternas."

Finalmente em 1739, foi nomeado, sem concurso prévio, para substituir d'Adrieu no órgão da Chapelle Royale.

Até à sua morte, foi coroado de sucesso e honras.

No último mês da sua vida, para a recepção do órgão da Sainte Chapelle, ele tocou "de uma maneira sublime, a sua cabeça e as suas mãos eram ainda as de um jovem de 20 anos".

Fontenai escreve que d'Aquin à sua morte, deixou muitos manuscritos de "musical vocal, motets, cantatas, actos de opera, sinfonias de órgão, quartetos, fugas, trios, etc...".

Fora a sua colecção de peças para cravo já citada e a cantabille, La Rose, a outra obra conhecida é a colecção de peças para órgão e cravo natalícias, o Nouveau Livre de Nöels pour l'orgue et le Clavecin.

Se esta colecção, infelizmente não nos mostra, o talento de polifonista e criador de fugas, grandiosamente apreciado no seu tempo, encontraremos o improvisador e virtuoso, segundo Fontenai observa, ele distingue-se pela sua "precisão infalível nas execuções de grande rapidez", e cuja principal qualidade "entre todos os virtuosos era mesma perícia das duas mãos".

Entre 1700 e 1730 o cravo estava no auge da sua glória (mais tarde, no 2ª metade do século, o piano forte irá rivalizar com ele).

Depois de François Couperin e Rameau, inúmeros músicos (a maior parte organistas e cravistas) ilustraram a escola de cravo francesa e deram-lhe um estilo singular.

Variedade de temas e ritmos, alternâncias de escalas maiores e menores, vivacidade nos movimentos, graciosidade na ornamentação, múltiplas evocações, retratos, dansas, paisagens que lhe conferem um espírito, uma elegância e um charme muito particulares.

Este novo estilo vai influênciar a música de órgão e introduz um carácter profano que se desenvolverá e conduzirá ao excesso de pastorales, orages, rossignols e aberturas de óperas do séc. XIX.

Apesar da sua virtuosidade e da moda, d'Aquin evita a facilidade.

Nos seus escritos e composições abunda a invenção constante.

Ele sobressai na arte da diminuição, "passar de um duo a um trio a um quarteto, de semínimas a colcheias, de colcheias a tercinas a semicolcheias, tudo isto levando aos grandes coros que retomam e harmonizam o tema inicial".

Atento às novas tendências, d'Aquin (que tinha 21 anos quando Louis XIV morreu) nunca abandonou o sentido de ordem e qualidade enaltecido pelos seus antepassados.

Ele manteve-se fiel às formas que eles amavam: récits de tierce, duos, trios, oposições entre o grand jeu e positivo, échos, modulações de uma oitava e meia.

Rameau prestou-lhe homenagem quando escreveu a Balbastre:" A música está a desaparecer. Muda-se de gosto a todo o instante. Seria muito difícil para mim trabalhar agora como o fazia no passado. D'Aquin foi o único músico corajoso a resistir a esta corrente. Conservou ao órgão sempre , a majestade e a graciosidade, que convinha."

(notas do CD "LOUIS CLAUDE D'AQUIN - LE LIVRE D'ORGUE" )

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