Marcel Dupré (1886-1971)

Quando Widor nomeou Marcel Dupré seu sucessor em Saint-Sulpice (Paris),em 1934, Dupré já era tão célebre como o órgão, e tinha sido professor de orgão no Conservatório de Paris desde a morte de Gigout em 1925.

Foi graças á sua maneira de ensinar, compôr e concertística que ele ganhou a sua reputação, pois não assegurou nenhum cargo de igreja permanente desde a sua infância (Sainte-Vivien de Rouen).

A relação de Dupré com Saint-Sulpice foi mais que prenomitória, de facto ele conhecia as estéticas dos grandes orgãos Cavaillé-Coll intimamente: foi assintente de Widor desde 1906, e substituiu Louis Vierne na Notre-Dame, entre 1916 e 1920, era acima de tudo um filho de Rouen na Normandia, uma região abençoada com uma espectacular concentração dos melhores instrumentos no raio de poucas milhas.

De facto, Marcel aprendeu a tocar num órgão de sala Cavaillé-Coll na casa da sua família, e o seu pai foi posteriormente titular de Saint Ouen, a última grande obra do organeiro.

Dupré deve o seu inquestionável lugar, na história do orgão, não só à sua virtuosidade, ao seu lendário dom com improvisador, e ao seu ensino, mas talvez ainda mais à sua mui pessoal linguagem musical, que tão bem capta o Weltanschauung da sua época.

Todos os que o conheceram, dão enfase à sua sensibilidade para com as correntes culturais e tecniologicas que o rodeavam (como testemunha o respeito pelo contrapontista alemão Karl Strauber), e a sua música reflete desde logo o optimismo exuberante que produziam os "Loucos Anos Vinte" e a nostalgica, mesmo trágica, contemplação dum mundo de ideais despedaçados.

Dupré encontra-se mais à vontade com a distorcida drôlerie do Intermezzo ou da Invenção em Mi bemol do que enfrentando os factos desagradáveis da vida como a morte de crianças ou de promissores jovens artistas, exemplo disso são as obras:

  • Lamento, dedicada à memória do filho de A. W. Henderson, o organista da Universidade de Glasgow

  • Os Prelúdios e fugas iniciais do Op. 7 e a "Offrande à la Vierge ", invoca os organistas franceses, vitimas da loucura ou da guerra.

A própria filha de Dupré , uma brilhante pianista, morreu antes de seu pai.

A nomeação de Daniel Roth para o lugar de organista titular de Saint-Sulpice- o quinto músico a exercer este cargo desde 1863 - foi saudada, com aprovação universal, no mundo organístico.

A tradição de Saint-Sulpice não foi só respeitada como foi criativamente desenvolvida.

A sua mente analítica e menória fenomenal permitiam-lhe anotar os melhores elementos de uma improvisação após ter sido efectuada, e a transposição de uma peça inteira no meio de um concerto também não era um feito impossivel .

A habilidade de Dupré com improvisador era dificilmente uma ameaça á integridade compositorial, até ao ponto da polifonia sublinhar o seu pensamento musical.

Dupré acreditava firmemente que não exsitia tal como coisa, como uma fuga "académica", e que um contraponto cromático bem dirigido era bem capaz de atingir uma infinidade de novas combinações harmónicas.

Apesar de ele estar consciente dos limites dos "truques de circo", como os punha ironicamente - improvisando duplas fugas em concerto a gosto.

O prelúdio e a fuga em Lá bemol mostram o poder expressivo que ele podia construir de tais, aparentemente "secos", géneros contrapontísticos.

Por outro lado com podia um músico de Séc. XX não estar receptivo ás maiores inovações homofónicas de Wagner, Debussy e Russos?

Dupré incorpurou esta necessidade no seu trabalho, na sua reforma do uso ao recurso tonal do órgão, ele pode verdadeiramente ser comparado com Chopin no campo do piano.

Um recente interesse pela música de Widor e de Lefébure-Wély, impensável à quinze anos atrás, pode ser presságio de uma iminente reaparição do contributo de Dupré no mundo musical.

Kurt Lueders

(notas do CD "MARCEL DUPRE-ORGELWERKE" 1986)

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