|
|
|
SINAIS DE FUMO
Licínio Patarra
"A vida é breve"
"Ainda que o outro desapareça fisicamente, que eu seja
impossibilitado de estar com ele, no entanto ele não
desaparece, mas pelo contrário, estará mais vivo em mim
do que nunca"
Fernando Azeiteiro
O Fernando Azeiteiro
passou por nós, acenou-nos com o seu sorriso e partiu.
Pensávamos nós que
tinha partido, pois a sua imagem continua agora mais
presente em nós do que quando connosco confraternizava
com a alegria, a boa-disposição e o sorriso que lhe eram
peculiares.
Palpitava nele uma
libertação dos problemas existenciais da vida, ventura
só alcançável por quem numa busca incessante conseguiu
alcançar a sua resolução.
Essa contagiante
libertação escancarava-se do seu rosto num iluminado
sorriso aberto, numa alegria e felicidade tão
espontânea, que ninguém conseguia ficar indiferente
perante tão pegajosa felicidade. Era como se o Fernando
quisesse concentrar na brevidade da sua vida tudo o que
esta tem de melhor.
Naturalmente não era um
super-homem, era um homem comum. Tão comum, tão
espontâneo e tão terra a terra que não havia ninguém que
dele não se quisesse aproximar para receber a graça da
sua boa disposição.
Um homem comum, mas não
um homem vulgar ou de vulgaridades.
Sabia como ninguém
cultivar o valor da amizade, da família, da
solidariedade e da paz.
Como filósofo que era
tinha naturalmente as suas dúvidas, as suas
inquietações, mas tal como o poeta poderia dizer não sei
por onde vou, só sei que não vou por aí .
Por isso não é de
estranhar que tenha olhado criticamente para esta mesma
sociedade cheia de contradições e tenha escrito que hoje
quanto mais a sociedade se humaniza, mais o sentimento
de anonimato se estende; quanto mais há indulgência e
tolerância, mais aumenta a falta de segurança do
indivíduo em relação a si próprio; quanto mais se
prolonga o tempo de vida, mais medo se tem de envelhecer
quanto mais os costumes se liberalizam mais avança a sua
impressão de vazio quanto mais cresce o bem-estar mais a
depressão triunfa .
Mas como tão bem e
também salientou o amigo José Vieira, na sua Festa de
Homenagem, Fernando Azeiteiro foi ainda um homem de
esperança e daí ter deixado escrito que por mais
limitações que a vida nos coloque, arranjamos sempre
lugar para o que amamos e ainda sempre que o homem tem a
coragem de encarar as interrogações mais sérias da
existência humana, especialmente as do sentido de viver,
de sofrer e de morrer, não pode deixar de ser um homem
de esperança .
Perante tudo isto é
natural que a perspicácia de alguém mais sensível se
tenha lembrado de lhe propor uma Festa de Homenagem, a
que tive a honra de assistir e assim melhor me inteirar
da pessoa que foi Fernando Azeiteiro.
Apesar de não ter o
privilégio de ser um dos seus amigos mais chegados, tive
o prazer de com dele privar varias vezes, respirando com
ele a brisa de uma vida que embora breve vale a pena ser
vivida apesar das suas interrogações e incertezas.
No fundo tudo é uma
interrogação: a vida, a morte e até Deus que será a
interrogação por detrás de todas as interrogações.
Nós, a exemplo do
Fernando, não podemos fechar-nos a essa interrogação,
pois perguntar pela vida, quando não se entende o seu
sentido ou perguntar por Deus quando se parece ser ter
sido abandonado por Ele é fundamentar a matéria de que
somos feitos e é apelar à nossa dignidade de pessoas
humanas.
|
|
|