O Seminário da Imaculada Conceição (1936-37 a 1986-87)
 
UM POUCO DA SUA HISTÓRIA
 
UM POUCO DA SUA HISTÓRIA
O Seminário da Imaculada Conceição da Figueira da Foz iniciou as suas actividades, pela primeira vez, no dia l de Outubro de 1936. O Decreto que criou o Seminário, instalado nos edifícios do antigo Colégio Figueirense, tem a data de 20 de Fevereiro do mesmo ano.
   No documento em que o faz público dizia o senhor D. António Antunes: «O nosso venerando Antecessor, quando já lhe faltavam as forças a ponto de nem sequer poder recitar o Breviário, quando só com grande dificuldade podia trocar algumas palavras com as pessoas que o rodeavam, resolveu num supremo esforço lançar mesmo a lápis, o seu último Decreto, a que poderemos chamar o seu testamento espiritual...» (Boletim da Diocese de Coimbra, Abril de 1936). D. Manuel Luís Coelho da Silva tinha ficado vivamente impressionado com o Relatório que, sobre a Diocese e o Seminário e as suas necessidades, lhe tinha sido apresentado, com dados estatísticos alarmantes, pelo Cónego Tomás Fernandes Pinto, nessa altura Vice-Reitor do Seminário de Coimbra. A leitura desse relatório, em que se preconizava a criação de um Seminário Menor para ocorrer à falta de clero que parecia agravar-se, levou a ilustre Prelado a escrever um veemente apelo aos seus diocesanos com o título «Corações ao alto!» com a data de 18 de Fevereiro de 1936. Dois dias depois redigia o Decreto da erecção do novo Seminário da Figueira da Foz, que é do seguinte teor:
   «Atendendo a que é absolutamente preciso aumentar muito mais ainda o número dos alunos do Seminário para poder ocorrer às necessidades das paróquias desprovidas de pároco, que são cada vez em maior número como se mostra à evidência no Relatório há pouco publicado;
   Atendendo a que este Seminário de Coimbra tem actualmente 212 alunos (e não comporta mais), e alguns deles mal alojados, especialmente os das duas camaratas, não obstante as obras que se fizeram;
   Atendendo a que a Santa Sé, depois da visita canónica que foi feita a este Seminário (assim como a todos os outros), reprovou aquelas camaratas em Outubro do ano passado (1935);
   Tendo invocado o auxílio divino, resolvemos criar um novo Seminário, ao menos para as primeiras classes de preparatórios, embora isto somente possa fazer-se com grande sacrifício.
   E assim dispomos o seguinte:
   ART. 1.° — No edifício do antigo Colégio Figueirense (Freguesia de Tavarede) é criado um Seminário de Preparatórios (ao menos para as primeiras classes). O Colégio termina no fim deste ano lectivo e o Seminário começará já a funcionar no próximo mês de Outubro.
   ART. 2.° — Este Seminário é dedicado à Imaculada Conceição de Nossa Senhora, que fica sendo a sua Padroeira; e assim desejamos inspirar aos novos seminaristas um amor cada vez mais terno e dedicado à nossa Mãe do Céu.
   Ficará sendo chamado SEMINÁRIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA FIGUEIRA DA FOZ.
   ART. 3.° — O novo Seminário será regido pêlos Estatutos do antigo, na parte que lhe for aplicável.
   ART. 4.° — Cada Seminário terá o seu orçamento próprio. Mas haverá um só cofre para os dois, e daí o Prelado mandará sair o que for preciso para cada um.
   ART. 5.° — Para esse cofre ofereço desde já cinquenta contos dos meus bens próprios. E peço aos Revs. Sacerdotes e a todas as pessoas de boa vontade, especialmente da Acção e Apostolado Católico, que não se esqueçam destas duas casas de formação do Clero e procurem intensificar cada vez mais a Obra das Vocações do Seminário, aqui estabelecida em Dezembro de 1920».
Este decreto foi completado por outro, com a data de 12 de Abril de 1936, assinado pelo Senhor D. António Antunes, pois no dia l de Março falecia o senhor D. Manuel.
   «Cumpre-nos completar o decreto ,fazendo as nomeações necessárias para o funcionamento do novo Seminário; e por isso dispomos o seguinte:
   1.°— No próximo ano lectivo funcionará somente a 1ª classe de preparatórios no Seminário Menor.
   2.° — Nomeamos para o cargo de Vice-Reitor o Rev. Padre Tomás Francisco Póvoa e para os cargos de Prefeitos os Revs. Padre Manuel Póvoa dos Reis e o Diácono Adriano Antunes.
   Esperamos do seu zelo e dedicação à Igreja que empreguem os seus melhores esforços na formação moral e intelectual dos seminaristas que lhes vão ser confiados».

   Começou assim o Seminário da Figueira da Foz. Nos primeiros anos é frequentado apenas pêlos alunos do 1.° e 2.° anos de preparatórios. Entretanto a conveniência de estabelecer uma separação mais nítida entre Seminário Menor e Seminário Maior, imposta por exigência do regulamento de cada um deles, conduz à fixação no Seminário da Figueira dos cinco primeiros anos do curso de preparatórios. O ano lectivo de 1951-1952 tem pela primeira vez alunos do 5.° ano.
   De ano para ano a média de admissões manifesta tendência para subir e, dado que, o Seminário não comporta tantos alunos duas resoluções são tomadas:
   1.a— O 5.° ano de preparatórios, ainda na década de cinquenta (1954-1955) deixa de ser leccionado no Seminário da Figueira da Foz, passando a ser leccionado no Seminário de Coimbra.
   2.a — É criado pelo senhor D. Ernesto Sena de Oliveira o Pré-Seminário de Buarcos em 1958.
   É utilizado para isso o edifício do chamado Paço do Bispo situado na vila de Buarcos, até à data destinado a colónias de férias dos seminaristas. O edifício foi remodelado e aumentado com um corpo anexo e o levantamento de dois andares na parte mais baixa que dá para poente. Apesar das obras ainda não estarem totalmente concluídas, já no ano lectivo de 1957-1958, 35 alunos do 1.° ano ali ficaram instalados.
   A erecção canónica foi feita pelo Exm.° Prelado em documento publicado no Boletim da Diocese de 1958 e é do seguinte teor:
«Considerando que foi felizmente mais avultado do que era de esperar, o número de candidatos que este ano se apresentaram a pedir a sua admissão no Seminário Menor da Figueira da Foz;
   Considerando que não era possível recebê-los todos naquele Seminário por falta de espaço suficiente;
   Considerando, por outra parte, que seria doloroso rejeitar cerca de um terço de tais candidatos que, por sinal, davam quase todos fundadas esperanças de bom aproveitamento;
   Considerando que para atender às primeiras indispensáveis necessidades de um Pré-Seminário na sua fase inicial, seria possível e rápida a adaptação sumária de uma casa há anos adquirida em Buarcos pela Diocese de Coimbra, e isso sem prejuízo do fim a que tal casa originariamente se destinava, que era o de servir para colónia de férias dos seus seminaristas;
   Considerando que só há vantagens em ter casa à parte com um regime especial para os alunos que tomam pela primeira vez o caminho do Seminário-casa que facilite a transição das crianças do seio da família para o regime de internato;
   Considerando ainda que, segundo conhecidas regras de pedagogia moderna, só há vantagens em que se não acumulem excessivamente na mesma casa os que aí devam viver em regime de internato, para que a educação de cada aluno possa ser mais facilmente seguida pêlos respectivos superiores;
   Considerando que para a plena consecução daquele objectivo é necessário adaptar definitivamente a referida Casa de Buarcos a Pré-Seminário, por maneira a poder comportar em condições condignas entre 70 a 80 alunos, o que obriga a não pequenas adaptações que a tornem capaz de corresponder ao alto fim a que se destina,
   HAVEMOS POR BEM, usando do Nosso Poder Ordinário, ao abrigo do Direito:
   1.° — Erigir canonicamente em Pessoa Moral Eclesiástica, na Vila de Buarcos, um Pré-Seminário destinado a alguns alunos do primeiro ano de preparatórios, o qual ficará sob o Patrocínio de Nossa Senhora da Encarnação, em memória do Venerando Santuário da mesma invocação, que ali existe, a bem pequena distância e que é tanto da devoção do povo das cercanias.
   Ficar-se-á, por isso, chamando «SEMINÁRIO DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO» de Buarcos;
   2.° — NOMEAR Reitor e Vice-Reitor do Pré-Seminário de Nossa Senhora da Encarnação, de Buarcos, respectivamente Mons. Cónego Tomás Francisco Póvoa e Padre José de Oliveira Moço;
   3.º — MANDAR que se proceda ao indispensável trabalho de adaptação e ampliação da referida Casa à medida que a Providência de Deus for deparando os meios para obra tão necessária.
   Que Deus abençoe largamente o nascente Pré-Seminário que não podia ter melhor Patrocínio do que d'Aquela em cujo Seio Virginal e puríssimo tomou carne o Filho de Deus feito Homem, que quis perpetuar na terra a Sua acção salvadora por meio de homens chamados a ser investidos, pelo Sacramento da Ordem, no Seu Divino Sacerdócio».
   A parte disciplinar e doméstica foi confiada às Religiosas do Instituto Diocesano «Ancillae Domini» — modalidade experimentada em Portugal pela primeira vez e com a aprovação e aplauso da Sagrada Congregação dos Seminários.
   As esperanças alimentadas por este afluxo de admissões não deram, como podemos ver mais adiante, os resultados que se esperavam. As causas deste afluxo de alunos são difíceis de descobrir. No entanto, talvez não seja estranho a este facto, uma certa explosão demográfica, a falta de democratização do ensino e o difícil acesso aos estudos por parte das gentes do meio rural.
   Ainda antes da década de setenta começa a verificar-se o decréscimo de admissões ao Seminário. No ano lectivo de 1964--1965 o 5.° ano de preparatórios volta a ser leccionado no Seminário da Figueira da Foz. O Pré-Seminário de Buarcos encerra após o ano lectivo de 1969-1970. O Seminário da Figueira, pequeno até então para tão grande número de alunos, começa a ver desocupadas algumas das suas salas. Os seminaristas que até então se distribuíam pelas prefeituras de Cristo-Rei, Nossa Senhora de Fátima, S. João de Brito, S. José e S. Luís de Gonzaga, passam a ocupar apenas duas ou três dessas prefeituras. De cerca de duzentos passam a ser sessenta os alunos do Seminário.
   Este fenómeno coincide, em grande parte, com o alargamento do ensino preparatório e liceal aos meios rurais.
Para que os alunos, embora tendo entrado com o pensamento no sacerdócio, à medida que crescem no conhecimento de si próprios e das exigências da vida sacerdotal, tenham plena liberdade de decisão e de escolha, aconselha-se a que os estudos tenham equivalência aos do ensino oficial.
   Dentro desta linha, os programas do Seminário da Figueira, foram evoluindo, começando por se adoptar o mesmo programa liceal, acrescido das disciplinas de Religião, Latim e Música. Em 1968 vai-se mais além, são os alunos do 1.° ano matriculados na Telescola, enquanto os do 2.° ano são leccionados no Seminário e propostos a exame no ensino oficial.
   Em 1969-1970 são já os alunos do 1.° ano do ciclo preparatório que vão às aulas à Escola Preparatória Dr. João de Barros da Figueira da Foz e parte do 3.° ano frequente as aulas do Liceu Nacional da mesma cidade. Finalmente, no ano lectivo de 1972--1973 já todos os alunos frequentam as aulas nos estabelecimentos oficiais.
   Naturalmente que esta alteração profunda no regime do Seminário em relativamente poucos anos, não deixou de levantar problemas. Os alunos saem todos os dias para as aulas, alguns dias mais do que uma vez. Deixou de ser possível aquela vida harmoniosa, marcada por um horário mais ou menos rígido doutros tempos. Os alunos entram em contacto com outros companheiros, muitos deles sem preocupações de ordem religiosa e com aspirações muito diferentes das suas.
   Foi um risco que o Seminário correu ao enviar os seus alunos aos estabelecimentos oficiais. Pensamos, no entanto, que valeu a pena correr esse risco. Além dos aspectos negativos que sobressaem, logo à primeira vista, como o ambiente degradado pela droga e pelo sexo, nada favorável ao amadurecimento de uma vocação de consagração, como a qualidade de ensino... há aspectos positivos que poderão ajudar os nossos seminaristas no seu crescimento como: mais responsabilidade, os professores e alunos sabem que eles são seminaristas, conhecimento do mundo e dos homens mais real, uma maior abertura....
   Com a finalidade de tornar o Seminário de Coimbra, apenas Seminário Pastoral, onde se supõe que a vocação já está, em princípio, suficientemente clara e decidida, optou-se no ano lectivo de 1976-1977 por os seminaristas do curso complementar ficarem no Seminário da Figueira. Depois de alguns anos de experiência, concluiu-se que, para os alunos do curso complementar, não era a melhor solução continuarem neste Seminário. Quer no aspecto de alojamento, não temos quartos, quer no aspecto formativo, contacto permanente com os mais novos. O Seminário da Figueira não correspondia às exigências de um grupo de alunos do curso complementar.
   Assim, em virtude do intercâmbio que se estabelece com a Diocese de Aveiro, no ano lectivo de 1980-1981, os nossos alunos do curso complementar começam a frequentar as aulas no Seminário de Aveiro, juntamente com os seminaristas desta Diocese. As aulas são internas possibilitando um estudo mais consciencioso nas disciplinas de Latim e de Grego e uma análise mais correcta nas de História e de Filosofia. Pensamos que a experiência tem sido válida e o intercâmbio que existe entre os seminários das duas dioceses enriquecedor.
Dado que, muitos alunos que vinham para o 1.° ano ainda não tinham os dez anos, achou-se que era mais vantajoso para eles continuarem no seio da família e aí fazerem o ciclo preparatório. Por isso, optou-se em 1984 por admitir alunos com o 2.° ano do ciclo preparatório terminado, pelo menos. Desde o ano lectivo de 1985-1986 o Seminário só tem alunos do 7.°, 8.° e 9.° anos.
   No Seminário os alunos são acompanhados nos seus estudos, têm aulas de formação religiosa e de música, além da formação humana e cristã que recebem.

OBRAS NO SEMINÁRIO DA FIGUEIRA DA FOZ
O Seminário instalou-se nos edifícios do antigo Colégio Figueirense. Logo no início se sentiu a necessidade de aumentar a capacidade dos edifícios, pois muitos alunos do Colégio eram externos. Assim em 1947, por iniciativa do senhor D. António Antunes, sobre o edifício das aulas de sólida construção ergueu-se um novo andar destinado a camaratas e serviços higiénicos. No tempo do senhor D. Ernesto Sena de Oliveira os edifícios foram melhorados, no refeitório e à cerca dado um aspecto agradável com a regularização dos pavimentos e o ajardinamento do terreno. Nos últimos anos, 1983, procedeu-se ao arranjo dos esgotos, ligando-os à rede da cidade. Outras obras de conservação têm-se realizado todos os anos.
ACTIVIDADES EXTRA-ESCOLARES

Para além do trabalho escolar, os alunos do Seminário, desde sempre, se dedicaram a outras obras, que são deixadas à sua livre participação, embora sempre sob a direcção dos superiores do Seminário. Estes trabalhos extra-escolares dão ao seminarista ocasião de manifestar o seu espírito de iniciativa, o zelo e o sentido que têm das responsabilidades e até de fazer a aprendizagem da difícil arte de lidar com os homens, mesmo que estes sejam os próprios companheiros.
   Dessas obras extra-escolares merecem referência as seguintes:


   A ACADEMIA DE SANTO ANTÓNIO com a finalidade de promover a cultura dos seminaristas e habilitá-los a apresentarem-se em público.


   A CONFERENCIA DE S. VICENTE DE PAULO proporcionando aos alunos um contacto com os irmãos necessitados.
«ESTRELA DA MANHû e o «ALVOR», revistas manuscritas, onde se iniciaram, através de gerações sucessivas, alguns alunos que mais tarde se haveriam de evidenciar como escritores e jornalistas de mérito.


   O ESCUTISMO ajudando os alunos, em contacto, com a natureza, a aprender a servir.

O SEMINÁRIO E AS FAMÍLIAS DOS SEMINARISTAS

   As normas da Sagrada Congregação dos Seminários defendem, para os Seminários Menores, um ambiente muito próximo do ambiente normal das crianças e jovens da mesma idade, em que não esteja ausente o contacto com as famílias.
   O Seminário da Figueira não tem descurado este aspecto. Não só as famílias podem visitar os alunos do Seminário, como também os seminaristas vão passar um ou dois fins de semana, por período, a suas casas, para além das férias normais.
   Na preocupação de um melhor entendimento entre os pais dos nossos seminaristas e os superiores do Seminário têm-se realizado, em cada período do ano lectivo, duas reuniões. Estas reuniões têm sido proveitosas. O crescimento de uma vocação exige a colaboração do trinómio: Família, Comunidade Paroquial e Seminário.
 

O livro tem a autoria do Padre João Coutinho Veríssimo

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