ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA AMIGOS DO ÓRGÃO

“TUDO O QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE O ÓRGÃO,

                                                                                                    E TEVE MEDO DE PERGUNTAR…”

António Mota Novembro de 2000  - 7/21

Ou

“34 Perguntas Embaraçosas sobre Órgãos de Tubos”


Do Funcionamento e Constituição dos Tubos Labiais

P8: Porquê, porquê?


R8: Considerando primeiro o caso dos tubos labiais, vemos (figura de cima) que na sua constituição não existem partes móveis. Os tubos labiais são constituídos por (de baixo para cima, na figura da esquerda): calcanhar, , lábio inferior, boca, lábio superior e corpo. Ocalcanhar é onde o tubo assenta no someiro (sítio na caixa do Órgão que suporta os tubos e para onde convergem todos os mecanismos de accionamento dos mesmos). É por aí que recebe o ar, devidamente pressurizado, a partir do fole e respectivo regulador de pressão.

Nas zonas laterais da boca podem existir, na vertical, umas placas denominadas orelhas. Também sobre a zona dos lábios pode haver um rolete ou barba. Servem ambos para estabilizar a produção de som dos tubos mais graves do espectro sonoro.

No interior do tubo, em frente à zona da boca, existe uma placa denominada alma (ver figura da direita) que dirige o fluxo de ar para fora do tubo, em direcção ao lábio superior. Mas a alma, ao fazer uma forte restrição ao fluxo de ar dentro do tubo, comporta-se também como um venturi, isto é, aumenta a velocidade do ar, baixando drasticamente a sua pressão4, abaixo dos níveis da pressão atmosférica. Assim, o ar, na boca do tubo, é empurrado novamente para dentro do tubo, criando-se a partir da boca um campo de pressões dentro do tubo, ao longo do seu corpo.

É, pois, devido ao fenómeno vibratório criado nesta zona que se obtém som, sendo pois que a boca e alma são peças-chave nesta questão.


4 Lei de Bernoulli, obtida a partir da integração da Equação de Euler.


P9: Quer-se dizer que o que vibra é o ar, não o tubo?


R9: Sim e não. O som advém do facto da coluna de ar dentro do tubo estar em vibração, tendo como consequência directa que o número de vibrações por segundo e por consequência a altura do som é função do comprimento do tubo (mais exactamente do corpo do tubo).

Quanto maior o tubo, mais grave é o som produzido. No entanto, o próprio tubo vibra por simpatia, criando-se então ondas transversais que influenciam o timbre. Se existisse apenas a onda longitudinal relativa à coluna de ar vibrante, no caso de um tubo cilíndrico, existiria apenas um harmónico fundamental, e obteríamos um som puro, do tipo obtido por um diapasão, ou gerado electronicamente por sintetizadores de onda sinusoidal.

Assim, o material constitutivo do tubo influi no timbre. Mas muito mais que o material, é a forma do tubo que determina sobremaneira o timbre, pois pode provocar o surgimento de outros modos de vibração que não apenas o 1º.

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