ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA AMIGOS DO ÓRGÃO

“TUDO O QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE O ÓRGÃO,

                                                                                                    E TEVE MEDO DE PERGUNTAR…”

António Mota Novembro de 2000  - 11/21

Ou

“34 Perguntas Embaraçosas sobre Órgãos de Tubos”


Da Família dos Principais, Flautas e Cordas

P14: Mestre, já estou a ficar baralhado com as nomenclaturas dos registos!!


R14: Então consulta as tabelas do Apêndice A. Notar que o levantamento não é exaustivo, claro. Existe uma tabela para os registos de fundo da Família dos Principais, outra para os fundos da Família das Flautas e outra para os fundos da Família das Cordas e Híbridos.

Há também uma tabela para os jogos de mutações, outra para as misturas e uma última para as palhetas. Em cada tabela encontram-se equivalências de nomes de registos de acordo com a terminologia alemã, inglesa, francesa, portuguesa e italiana. Informa-se também das características fundamentais dos registos nalguns pontos, mormente a composição do tubo, a sua forma, se são abertos, tapados ou meio-tapados, etc..

Alguns registos da Família das Flautas:

Alguns registos da Família das Cordas:
Flauta de Chaminé

Flauta Tapada

Pommer 8’

Bordão

Nazard, Larigot, Tierce

Viola

Viola da Gamba

Dulciana

Salicional

Voz Celeste

 

 

P15: Famílias? Quais famílias? Fundos, mutações e misturas?!?


R15: Calma, jovem! Vamos por partes. Já sabemos que a primeira observação que se deve fazer é se os tubos a que pertence o registo em estudo são do tipo labial ou de palheta.

Tratando primeiro do caso dos tubos labiais, sabemos também que podem ser abertos, fechados ou meiotapados, e que o seu material constituinte pode ser a madeira ou o metal.

Os registos, por sua vez, podem ser agrupados em 3 tipos: fundos, mutações ou misturas, de acordo com a sua função em termos de registação das peças, como veremos mais adiante.

Mas antes, interessa agrupar os tubos labiais por diversas famílias, de acordo com as suas características básicas em termos de colorido sonoro.

As famílias dos tubos labiais são 3, a saber: Principais, Flautas e Cordas.

 

P16: E o que caracteriza as famílias? O material do tubo? Se é aberto ou fechado?


R16: Não directamente. As famílias distinguem-se pelas características de timbre. É que uma vez arbitrado o material do tubo, se é aberto, tapado ou meio-tapado, e qual a forma geral do seu corpo (cilíndrico, cónico, etc.), o timbre é radicalmente alterado em função da característica de medida (scale em inglês) do tubo. A medida de um tubo define-se como sendo a relação entre o comprimento do seu corpo e o seu diâmetro.

Quanto maior a medida de um registo (quanto maior a largura dos tubos em proporção à sua altura) mais doce e suave é o som e, inversamente, quanto menor a medida mais harmónicos temos, obtendo um timbre mais brilhante. Por outras palavras, a medida estreita favorece o surgimento dos harmónicos superiores.

Portanto, podemos ter dois tubos, digamos, tipo metálico cilíndrico aberto, construídos com uma liga de composição idêntica, mas que, por terem medidas diferentes, apresentam características de timbre completamente diferenciadas! Notar ainda que o timbre pode ainda ser ligeiramente regulado por modificações na boca do tubo, na pressão do ar, etc..

 

P17: Então quais são as características da Família dos Principais, Mestre?


R17: Na Família dos Principais incluem-se os tubos de medida normal. Caracterizam-se por uma sonoridade forte e um timbre claro, sendo os verdadeiros representantes do som do Órgão, no sentido de não ambicionarem imitar qualquer outro instrumento já existente. São sempre tubos do tipo aberto, normalmente feitos em metal, mas em Órgãos antigos podemos igualmente encontrar Principais de madeira, como é o caso do registo Open Diapason.

Os Principais existem em várias alturas, desde 32’ a 1’, e nele também se incluem todos os registos do tipo mistura (excepto o Cornet e a Sesquialtera) e alguns do tipo mutação. Alguns exemplos são:

Principais (8’ ou 16’): Principais (4’ e 2’): Principais (mutações e misturas): Tubos Labiais:
Principal / Diapasão /Montre / Flautado Principal 4’ / Oitava /Prestant

Principal 2’ / Doublette /Quinzena / Superoktave

Quinta 2+2/3’

Mixtur VI

Simbala III

Madeira

Metal

P18: E as Flautas, Mestre?


R18: Na Família das Flautas incluem-se os tubos de medida larga e também os tubos tapados.

As Flautas são os tubos mais abundantes nos Órgãos, em geral. Caracterizam-se por uma sonoridade menos rica em harmónicos que os Principais, resultando algo semelhante à flauta da orquestra. Podem ser feitos em madeira ou em metal e existem também numa grande variedade de alturas.

Dentro dos tubos abertos, são exemplos quase todos os registos com a designação “flauta”, mesmo que precedida de prefixo (como em Hohlflöte).

Exemplos de tubos tapados de metal são o Stopped Diapason ou o já falado Quintatão (se bem que o timbre característico deste, com o 3º harmónico muito forte, torna-o num caso especial).

Exemplos de tubos tapados de madeira pertencentes à Família das Flautas são o Bordão (Tapado em português, ou Gedackt em alemão). Apresentam-se de seguida alguns outros exemplos. Notar que quase todos os registos de mutação (como o Nasard, Larigot e Tierce) incluem-se na Família das Flautas (basicamente, a excepção é o registo de Quinte, que é um Principal):

P19: Quanto às Cordas…


R19: Na Família das Cordas incluem-se os tubos de medida estreita, caracterizando-se, pois, por uma sonoridade muito mais rica em harmónicos que os Principais. Em termos de amplitude sonora, encontram-se ao nível das Flautas, menos “fortes” que os Principais, portanto.

Os registos que se incluem neste grupo, não pretendendo imitar perfeitamente as cordas orquestrais, não deixam de se pautar por uma sonoridade “quente” e expressiva, muito em conformidade com a filosofia do Órgão romântico. Aliás, é nestes Órgãos que se podem encontrar uma grande variedade deste tipo de registos. Existem numa diversidade limitada de alturas (normalmente apenas 8’ e 4’, mais raramente 16’). Alguns exemplos destes registos encontram-se no quadro acima exposto, à direita.

Finalmente, refira-se que existem registos labiais que não se enquadram perfeitamente nem na categoria da Família das Flautas nem na Família das Cordas. Estes registos, ditos da Família dos Híbridos, encontram-se, pois, em termos tímbricos algures entre as Flautas e as Cordas. São exemplo os registos Gemshorn (ou Flauta Cónica) e o Erzähler, que frequentemente existem também em versão “celeste”.

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