ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA AMIGOS DO ÓRGÃO

“TUDO O QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE O ÓRGÃO,

                                                                                                    E TEVE MEDO DE PERGUNTAR…”

António Mota Novembro de 2000  - 16/21

Ou

“34 Perguntas Embaraçosas sobre Órgãos de Tubos”


Dos Mecanismos de Tracção dos Órgãos

P31: Tracção eléctrica, Mestre?


R31: O acto de premir uma tecla e, como resultado, um tubo ser alimentado com ar implica um determinado mecanismo de tracção. Nos Órgãos feitos actualmente, esse mecanismo de tracção ou é do tipo eléctrico ou mecânico.

Num instrumento de tracção mecânica, existe um sistema de tirantes ligados entre as teclas e as válvulas de ar dos tubos. Obviamente, este é o tipo de tracção que encontramos em Órgãos antigos.

Na figura de baixo, à direita, podemos ver um esquema representativo da tracção mecânica. No entanto, não é fácil em instrumentos de grande dimensão obterem-se teclados suficientemente leves, que não prejudiquem a execução, portanto. Este problema foi sendo resolvido ao longo dos tempos pelos organeiros, mas tal não obstou que no séc. XIX tivessem surgido outras formas de tracção.

Primeiro surgiu a tracção pneumática, que usava ar comprimido – ao premir-se uma tecla, enviava-se ar sob pressão, através de umas tubagens finas, até às válvulas de alimentação dos tubos, para accioná-las. Grande parte dos famosos Órgãos românticos Cavaillé-Coll usavam tracção pneumática. O grande problema da tracção pneumática é o atraso devido à baixa velocidade de propagação do ar nos tubos de controlo dos mecanismos.

Daí ter surgido a ideia ainda no séc. XIX de se passar a usar a electricidade, recorrendo a interruptores no lado das teclas e a válvulas eléctricas tipo electroíman no lado dos tubos.

Na figura anterior, à esquerda, podemos observar um esquema relativo à tracção eléctrica.

 

P32: E quais são as vantagens e desvantagens da tracção eléctrica face à mecânica, Mestre?


R32: As grandes vantagens da tracção eléctrica são (i) a maior simplicidade de construção, o que se reflecte no preço do instrumento, e (ii) a possibilidade de se poder ter a consola separada da caixa do Órgão, podendo posicionar-se em sítios mais vantajosos para o organista do ponto de vista da audição.

Mas as desvantagens são mais que muitas: (i) a durabilidade e fiabilidade destes sistemas deixa algo a desejar, não tanto pelos problemas de oxidação de contactos, que nos modernos sistemas podem ser selados, ou do tipo magnético, mas sobretudo pelo ciclo de vida limitado das electro-válvulas; (ii) as electro-válvulas têm uma constante de tempo de resposta associada, isto é, o tempo que decorre entre o carregar numa tecla e o começar a abrir da electro-válvula não é de todo desprezível; mesmo sendo tempos inferiores a um décimo de segundo, são perfeitamente notados pelo organista;

caso o organista/consola esteja também demasiado afastado da caixa do Órgão, o problema da resposta ainda piora (a velocidade de propagação do som é de apenas 340 metros por segundo); (iii) o tempo que a electro-válvula leva desde a posição fechado a aberta, e vice-versa, não pode ser controlada pelo organista; em geral, é inclusive rápida demais para que se ouça o transitório de ataque da produção de som pelo tubo, algo que faz parte do charme de um bom Órgão barroco (já num romântico o som tende a ser mais “contínuo” por natureza, pelo que o problema não se coloca tão veementemente).

A tracção mecânica permite que o organista sinta a abertura e fecho das válvulas dos tubos, podendo regular esse tempo com diferentes tipos de articulação, alterando os transitórios de ataque e fecho das notas, o que possibilita, pois, outras nuances de interpretação.

Uma tendência comum hoje em dia é manter-se a tracção mecânica para os teclados e usar-se um sistema eléctrico para ligar os registos, o que permite a existência de úteis sistemas de combinações sequenciais, por exemplo, controlados por computador, e que dispõem de um elevado número de bancos de memória.

 

P33: Mestre, nos órgãos mecânicos o peso das teclas aumenta com o número de registos?


R33: Não directamente. Aumenta sobretudo com a distância a que a respectiva secção se encontra do seu teclado. Portanto, indirectamente, quanto mais registos e maior é o Órgão, mais se coloca o problema do peso do teclado, devido à multiplicidade de mecanismos.

Por outro lado, a dureza de um teclado aumenta muito caso se chamem outro teclados através de acoplamentos. Uma mecânica de boa qualidade permite abreviar estes problemas, mas outra solução muito usada actualmente é fazerem-se os acoplamentos de forma eléctrica, mantendo-se a tracção mecânica apenas entre o teclado e a sua respectiva secção. Mas para termos uma panorâmica mais exacta do funcionamento de um Órgão mecânico, podemos observar a figura do Apêndice C , onde está representado um Órgão de 3 registos.

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