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“A Arte e Técnica de Tocar Órgão Aplicadas à Fuga em Sol Maior de J. S. Bach” |
António Mota Dezembro de 2000 - 4/9 |
Outras Considerações Uma vez passada a fase da dedilhação e das primeiras leituras, o processo de estudo duma peça, e em particular a etapa final de a tocar em público, são susceptíveis de levantar mais algumas considerações, que importa referir nesta secção: · após muito serem trabalhadas, as peças acabam por estar mais ou menos conscientemente “de cor”, pelo que na “hora H”, e tendo-se optado por tocar com a partitura à frente, há que fazer um esforço para a ler mesmo; isto é, há que evitar a típica situação em que se tem a partitura à frente mas está-se no fundo a tocar de cor - mas sem a concentração necessária, pois estamos a deixar-nos enganar pela falsa segurança da presença da partitura (mas no fundo não se está a lê-la!); · é consensual que tocar de cor representa uma vantagem competitiva muito grande em termos de qualidade de interpretação e até de segurança de execução; o processo de aprender “de cor” uma peça deve ser feito de preferência não através duma simples mecanização dos movimentos mas duma interiorização do que se está a tocar, pensando-se nas entradas dos temas das fugas, por exemplo, ou do que se está a passar em cada momento em termos de modulações, etc.; é como quando se toca um arpejo se deve pensar no acorde; uma solução de compromisso aceitável será decorar as passagens mais problemáticas e tocar pela partitura as outras; · em qualquer dos casos, há que evitar olhar para as mãos, salvo as raríssimas excepções (na música barroca pelo menos) em que deparamos com saltos grandes; noutras situações estamos a desviar a atenção de um aspecto fundamental da técnica, que é o “sentir” das teclas; no fundo, o uso da visão dá azo a que o cérebro julgue que o "sentir" se torna redundante em relação ao "ver", ou até ao “pensar” dos movimentos que são necessários; é uma questão básica da psicossomática humana e da hierarquia dos nossos sentidos; · há também que ceder à tentação de na fase de estudo se tocar rápido demais, pois isso impede uma assimilação profunda das obras; mesmo numa fase pré-concerto, é bom retomar de vez em quando um andamento mais lento, como que para relembrar o trabalho que foi feito; na música como em outras coisas na vida observam-se fenómenos cíclicos, em que picos de forma são seguidos por fases menos boas, tendo-se de saber gerir estas situações com um constante voltar a traz às coisas básicas da técnica e à re-assimilação total da obra; · além do “sentir” das teclas, deve-se obviamente estar sempre a cantar a música interiormente; é um meio para melhor interpretar e também um meio para manter a concentração, aspecto importante sobretudo na fase de estudo, em que facilmente se cai em rotina, baixando sobremaneira o rendimento do trabalho; · um exercício excelente para treinar o tocar “de cor”, a “sentir” as teclas e a “cantar” a música é praticar às escuras e com os teclados mudos – OK, de cor e devagar já não é mau… ../.. |
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