ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA AMIGOS DO ÓRGÃO

“TUDO O QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE O ÓRGÃO,

                                                                                                    E TEVE MEDO DE PERGUNTAR…”

António Mota Novembro de 2000  - 14/21

Ou

“34 Perguntas Embaraçosas sobre Órgãos de Tubos”


Das Famílias dos Tubos de Palheta e Respectivas Regras de Uso

 

P22: E as palhetas, Mestre?


R22: Muito justamente, ia agora falar disso. Já explicado o seu funcionamento geral, importa agora, tal como se fez para os tubos labiais, organizá-las de uma forma lógica, por famílias.

Notar que a espessura da palheta e o comprimento da secção vibrante determinam o número de vibrações produzidas pela mesma, não dependendo do tamanho do corpo ressoador, portanto.

Assim se explica que se podem ter tubos de palheta rotulados de 16’ e que medem pouco mais de um palmo de comprimento! A força do som depende por sua vez da espessura da palheta, e da pressão do ar a que o tubo opera. Em qualquer dos casos, o corpo ressoador, que pode surgir numa infinidade de formas e tamanhos, seja em madeira ou metal, influi sobremaneira no timbre final.

Tubos de Palheta:
Corais

Solísticas

Uma organização possível dos tubos de palhetas é: palhetas Corais e palhetas Solísticas, consoante a sua utilização tem em vista reforçar o “órgão pleno” ou antes ser usado para solos.

Notar que, naturalmente, esta divisão não é absolutamente hermética, antes pelo contrário.

Palhetas Corais (família dos trompetes):
Trompete

Trompa, Trombone

Tuba, Clairon 4’

Trompete Harmónico

Posaune, Bombarde

As palhetas corais são essencialmente as da família dos trompetes, de que se apresentam alguns exemplos no quadro anterior (os nomes sugerem os metais da orquestra, mas a sonoridade dista algo). Caracterizam-se por possuir ressoadores cónicos aproximadamente do tamanho de um equivalente labial.

Frequentemente são montados horizontalmente, fora da caixa do Órgão, “em chamada”, como se vê na figura de baixo, à esquerda. Este tipo de palhetas tem em vista reforçar a sonoridade de “cheio”, sendo que a sua fusão dá-se melhor com misturas “graves” do que com a Simbala. Podem também ser usadas em solos, caso a linha melódica não seja demasiado estática. Usadas quer solística quer polifonicamente, a combinação de um Trompete com um Cornet é comum, por forma a suavizar o timbre.

Certas palhetas solísticas podem também servir para engrossar o cheio, mas prestam-se mais frequentemente a servir para solos, sendo usual combiná-las com um fundo de Flauta.

Mais do que estabelecer regras, importa antes apelar à sensibilidade, tanto mais que não havendo 2 Órgãos exactamente iguais no mundo, o melhor mesmo é a experimentação. Os ressoadores das palhetas ditas solísticas são muito mais curtos que os das corais. A família dos Oboés apresentam ressoadores cónicos estreitos, sendo que em termos tímbricos se assemelham aos trompetes (o Oboé em particular), mas mais suaves. Já a família dos clarinetes tem ressoadores cilíndricos, podendo ser muito curtos em registos como o Regal, causando uma sonoridade rústica e penetrante. Existem finalmente palhetas rotuladas como orquestrais que, como o nome indica, visam claramente a imitação de sons da orquestra moderna, encontrando-se, pois, em Órgãos de feitura mais recente. Notar que em certas registos a palheta vibra livremente, sem bater na cânula, de que resulta um som bastante mais doce.

Palhetas Solísticas (família dos oboés): Palhetas Solísticas (família dos clarinetes): Palhetas Solísticas (família dos clarinetes, ressoador curto): Palhetas Solísticas (tipo orquestral):
Oboé

Shalmei

Fagote

Clarinete

Cromorno

Dulciana

Ranket

Regal

Zink

Corne Inglês

Oboé de Orquestra

Clarinete de Orquestra

A Voix Humaine, que surgiu nos Órgãos franceses românticos do séc. XIX, é uma palheta com um ressoador muito curto, normalmente para ser usada com trémulo. Mas atenção que nos Órgãos antigos italianos ou ibéricos, o registo de Voz Humana trata-se não duma palheta mas antes de um Principal “desafinado”, para ser usado como as “celestas”, portanto.

Também a Dulciana existe em “versão” de tubo labial e de palheta. Os quadros anteriores indicam alguns registos comuns, enquanto que na figura anterior, à direita, mostram-se algumas formas típicas de registos de palheta (da esquerda para a direita, Corne Inglês, Fagote e Voix Humaine).

E da “Regra 3 – Do Uso das Palhetas” estamos servidos.

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