Georg Friedrich Haendel (1685-1759)

Compositor alemão nascido na cidade de Halle no mesmo ano que Johann Sebastian Bach, Haendel iniciou a sua actividade musical na Ópera de Hamburgo.

Aos 21 anos realizou a primeira viagem importante - a Itália - onde teve oportunidade de se familiarizar com a Cantata, a Ópera e a Oratória deste país, assim como de estabelecer contactos com os autores mais famosos da época, e particularmente Corelli e Alessandro Scarlatti.

No entanto, Haendel decidiu fixar residência em Londres, onde trabalhou durante 35 anos, até ao fim dos seus dias, sofrendo os altos e baixos da ópera séria italiana, gradualmente ameaçada pelos êxitos do espectáculo popular, como o célebre The Beggar's Opera de Gay e Pepush.

Mas para além deste facto, sobretudo nos anos 30 do século não foram fáceis para o compositor devido à criação em Londres de uma segunda companhia de ópera concorrencial; após 30 anos de êxitos acumulados, as dificuldades crescentes levaram-no a procurar alternativas nos campos da Oratória, Serenata, Concerto, etc.

Em 1740 empreendeu nova viagem à Europa, e no regresso à capital britânica fez duas últimas incursões no domínio da ópera italiana, qualquer delas com resultado pouco menos que desastroso:

  • Imeneo, escrito entre 1738 e 1740

  • Deidomia, estreada a 10 de Janeiro de 1741.

Foi providencial para Haendel o convite que então surgiu para se deslocar à Irlanda: iniciou nesse Verão a escrita do Messias - completado em 3 semanas - que teve o seu ensaio geral no "Music Hall" de Dublin a 9 de Abril de 1742 e a primeira audição a 13 do mesmo mês, com receitas a favor de instituições de caridade, e uma adesão pública entusiástica, que lhe granjeou populariedade duradoura naquela cidade.

Passada esta fase de relativa indiferença por parte do público londrino, não tanto pela obra de Haendel em geral como pelo tipo de ópera cultivada, o seu renome não deixou mais de crescer, não só durante os últimos anos de vida, como após a sua morte em 1759.

Testemunhas deste facto são :

  • as 36 apresentações do Messias sob a direcção do compositor

  • as edições completas das suas Oratórias iniciados por John Walsh 4 anos mais tarde, como o Sansão (1763) e o Messias (1767)

  • a admiração vivamente manifestada por Haydn e Beethoven

  • a reorquestração desta última Oratória feita por Mozart em 1789.

Em meados do séc. XIX surgiu a "Sociedade Haendel " alemã ("Händel-Gesellschaft") que, pela mão de Friedrich Chrysander, publicou entre 1858 e 1902 a edição mais completa das suas obras em 93 volumes.

Os grandes Oratórios de Haendel baseiam-se em conflitos dramáticos da vida humana, representados por personagens, ora derivados da Antiguidade Clássica, com Esther e Athalie, ora de histórias bíblicas, como Saul, Sansão ou Jephta.

Há porém, duas excepções a este tipo de Oratória:

  • Israel no Egipto

  • Messias

que, por um lado, não encerram um argumento no sentido vulgar do termo, e por outro lado são os únicos baseados exclusivamente em textos bíblicos, o primeiro no Êxodo, o segundo de fontes variadas justapostas do Antigo e do Novo Testamentos ( Salmos, Profetas, S. João, S. Lucas, S. Mateus, etc.).

As palavras do Messias resultaram de uma compilação feita pelo seu antigo colaborador e amigo Charles Jennens, do qual nos chegou a primeira referência a esta obra, numa carta de 10 de Julho de 1741:" Haendel diz que não vai fazer nada no próximo Inverno, mas espero conseguir convencê-lo a compor outra Antologia das Escrituras que fiz para ele, e apresentá-la em seu benefício na Semana da Paixão. Espero que ele empenhe nela todo o seu engenho e mestria, de forma a que esta composição exceda a qualidade das anteriores, assim como o assunto é superior a qualquer outro. O asunto é o Messias"

Na realidade, um dos motivos principais da perfeição desta obra reside na selecção criteriosa e adequada dos textos criando unidade e coerência interna através da contenção dramática e de uma qualidade literária notável.

De facto, Haendel empenhou-se, e não se esqueceu de referir o êxito da estreia a Jennens numa carta escrita em Dublin, onde incluiu o elogio do Bispo de Elphin: "Se já nas suas Oratórias o Sr. Haendel supera todos os compositores que me foi dado conhecer, então no célebre chamado Messias parece superar-se a si próprio. O conjunto ultrapassa tudo o que eu conhecia antes de o ler e ouvir. Parece um tipo de música diferente de qualquer outro...".

A estrutura geral da obra acompanha as convenções da Oratória na divisão em três partes, na articulação em Árias, Recitativos e Coros.

A primeira parte do Messias narra as profecias à volta do nascimento de Cristo e do Natal propriamente dito.

A segunda trata do sofrimento e humilhações de Cristo na Terra até à Cruxificação, Ressurreição e Júbilo pela vitória do Reino de Deus, no célebre coro do "Alleluia".

Finalmente, a terceira parte consiste fundamentalmente em comentários à volta dos temas da Ressureição e do Julgamento Final.

A instrumentação do Messias foi revista várias vezes por Haendel e adaptada também às circunstâncias e aos efectivos existentes em cada ocasião.

Na estreia de Dublin a partitura não incluia oboés, mas foram acrescentados para as apresentações feitas nas temporadas londrinas, a par de outras modificações graduais introduzidas até à versão definitiva, que pode datar-se de 1750.

(notas da 1ª SÉRIE DE CONCERTOS, 1989 - ORQ. DO PORTO)

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