Não era mentira. Infelizmente, depois de cerca de
15 meses de grande sofrimento, Portugal viu partir mais um grande nome da cultura,
designadamente, da cultura organística portuguesa.
Nasceu em 1942, na freguesia da
Madalena, em Vila Nova de Gaia, onde agora repousam as seus restos mortais.
Os seus conhecimentos musicais
iniciam-se no Conservatório do Porto, e a sua paixão pelo órgão, talvez surja pelo
facto de ter existido um Harmónio em casa de seus pais.
Tendo fixado residência em Lisboa,
trabalhou na firma Valentim de Carvalho, como apresentador dos órgãos da mesma e,
simultaneamente estudou no Instituto Gregoriano, onde concluiu o Curso Superior de
Órgão, sob a orientação do Prof. Antoine
Sibertin-Blanc.
No Conservatório Nacional de
Lisboa, frequentou o Curso de Interpretação de Música Antiga, dirigido peço Prof.
Macario
Santiago Kastner.
A partir desta época, 1971, como
Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, partiu para Bruxelas, onde realizou um
estágio de aperfeiçoamento artístico, sob a orientação de Kamiel d'Hooge.
Com a feliz iniciativa da Fundação
Calouste Gulbenkian, dedicada ao restauro de órgãos históricos, na década de 70, S. da
Hora principia a sua actividade de concertista e lança-se no importante campo das
gravações, em órgãos como de Óbidos, Faro, Évora e Porto.
A colecção Lusitana Musica,
actualmente reeditada em CD testemunha esse notável labor.
Em 1977, entrega-se também à
carreira de professor da Classe de Órgão do Conservatório Nacional de Lisboa, sendo o
responsável pelo ressurgimento de muitos novos organistas, entre os quais se destaca o
nosso Associado, Engº Rui Paiva, actual Director da Academia de Stª Cecília.
O seu estudo e divulgação da
Música Antiga Ibérica, levam-no a orientar vários festivais, sendo de salientar o
Festival de Música Antiga, de Évora, e a participar em cursos internacionais,
colaborando com grandes mestres, como José Luis Uriol, Ton Koopman e Jordi Savall.
É ainda dentro do espírito da
Música antiga, que colabora com o Prof. Manuel Morais, divulgando a Música do Renascimento, através do grupo
"Segréis de Lisboa".
A sua responsabilidade e
consciência do valor histórico do nosso património organístico completa-se com o apoio
que sempre deu, na década de 80 e 90, ao projecto de recuperação de órgãos, como da
Basílica de Mafra, Sé de Braga, S. Vicente de Abrantes, entre outros.
De salientar que uma das suas
últimas iniciativas, foi a organização o Ciclo do Órgão, dentro do programa
das actividades "Lisboa 94- Capital da Cultura", dee que resultaram importantes
concertos, em Setúbal, Lisboa, Mafra e Coimbra, com organistas como A. Sibertin-Blanc,
Francis
Chapelet,
António Duarte, João Pedro Oliveira, Rui Paiva, Ton Koopman, João Vaz, Jozef Sluys, José Luis Uriol e Harald Vogel.
Dentro do mesmo programa, tornou-se
possível o restauro de dois dos mais importantes instrumentos Portugueses: Igreja de S.
Vicente de Fora e Igreja dos Mártires, em Lisboa.
Por fim, a sua intensa actividade,
completa-se com o trabalho de produção e orientação artístuca, principalmente em
muitas edições de música para tecla, mas também noutros domínios da música
Portuguesa.
São de salientar os vários
trabalhos com a Nova Filarmonia Portuguesa, sob direcção do Maestro Alvaro Cassuto.
Nesta sua actividade complementar,
trabalhou com as editoras Valentim de Carvalho, Polygram, Musicata, e ultimamente como
director da parte clássica da Movieplay Portuguesa.
Pena foi não ter podido terminar o
trabalho de produção e edição do Conjunto de 10 CDs sobre os principais órgãos
Históricos, para a qual já tinham sido gravadas a maioria das obras.
Esperamos que a Movieplay Portuguesa
saiba honrar o nome de Simões da Hora e possa, ainda, concretizar este
precioso trabalho editoral.
É ainda neste período, que a
divulgação das actividades editoriais da música clássica alastra por todo o País,
através do Programa radiofónico "Flores da Música", no qual, Simões
da Hora , era o principal interveniente.
Além disso, é de salientar as
imensas participações em programas, quer na rádio, quer na televisão.
Não pretendemos dar uma ideia
completa de toda a obra de Simões da Hora . Outros o poderão fazer
melhor.
No entanto, nos cerca de 15 anos do
nosso convívio podemos testemunhar ter tido um amigo, um conselheiro e um companheiro.
Um amigo sempre pronto a ajudar, que
não escondia a sua opinião, quer fosse positiva ou negativa, sempre num espírito
cordial.
O conselheiro que nos ajudou a
seguir em frente e a acertar agulhas nesta árdua actividade do restauro.
O companheiro, com quem tive o
prazer e a honra de trabalhar, sempre num espírito de melhor servir a Cultura
Organística Portuguesa.
Foi este amigo que, todos nós, tão
cedo, perdemos.
Obrigado, Simões da Hora
!
Complementando esta Biografia, que
não pretende ser exaustiva, com a informação das obras editadas em CD e que tiveram a
participação de Joaquim Simões da Hora, seguidas das que participou,
como produtor ou orientador artístico:
Existem muito mais
trabalhos editoriais em que Joaquim Simões da
Hora participou, quer como produtor ou director artístico.
Estaremos ao dispor para, em
próximos números, completarmos tudo o que for possível.
(António Simões, in
"ARS Lusitana Organi, Dezembro
1996)