Associação Portuguesa
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JOAQUIM SIMÕES DA HORA
um marco na História do Órgão em Portugal

António Jesus Simões

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António Jesus Simões


   Na madrugada de 1 de Abril de 1996, faleceu Joaquim Simões da Hora.

Não era mentira. Infelizmente, depois de cerca de 15 meses de grande sofrimento, Portugal viu partir mais um grande nome da cultura, designadamente, da cultura organística portuguesa.

Nasceu em 1942, na freguesia da Madalena, em Vila Nova de Gaia, onde agora repousam as seus restos mortais.

Os seus conhecimentos musicais iniciam-se no Conservatório do Porto, e a sua paixão pelo órgão, talvez surja pelo facto de ter existido um Harmónio em casa de seus pais.

Tendo fixado residência em Lisboa, trabalhou na firma Valentim de Carvalho, como apresentador dos órgãos da mesma e, simultaneamente estudou no Instituto Gregoriano, onde concluiu o Curso Superior de Órgão, sob a orientação do Prof. Antoine Sibertin-Blanc.

No Conservatório Nacional de Lisboa, frequentou o Curso de Interpretação de Música Antiga, dirigido peço Prof. Macario Santiago Kastner.

A partir desta época, 1971, como Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, partiu para Bruxelas, onde realizou um estágio de aperfeiçoamento artístico, sob a orientação de Kamiel d'Hooge.

Com a feliz iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, dedicada ao restauro de órgãos históricos, na década de 70, S. da Hora principia a sua actividade de concertista e lança-se no importante campo das gravações, em órgãos como de Óbidos, Faro, Évora e Porto.

A colecção Lusitana Musica, actualmente reeditada em CD testemunha esse notável labor.

Em 1977, entrega-se também à carreira de professor da Classe de Órgão do Conservatório Nacional de Lisboa, sendo o responsável pelo ressurgimento de muitos novos organistas, entre os quais se destaca o nosso Associado, Engº Rui Paiva, actual Director da Academia de Stª Cecília.

O seu estudo e divulgação da Música Antiga Ibérica, levam-no a orientar vários festivais, sendo de salientar o Festival de Música Antiga, de Évora, e a participar em cursos internacionais, colaborando com grandes mestres, como José Luis Uriol, Ton Koopman e Jordi Savall.

É ainda dentro do espírito da Música antiga, que colabora com o Prof. Manuel Morais, divulgando a Música do Renascimento, através do grupo "Segréis de Lisboa".

A sua responsabilidade e consciência do valor histórico do nosso património organístico completa-se com o apoio que sempre deu, na década de 80 e 90, ao projecto de recuperação de órgãos, como da Basílica de Mafra, Sé de Braga, S. Vicente de Abrantes, entre outros.

De salientar que uma das suas últimas iniciativas, foi a organização o Ciclo do Órgão, dentro do programa das actividades "Lisboa 94- Capital da Cultura", dee que resultaram importantes concertos, em Setúbal, Lisboa, Mafra e Coimbra, com organistas como A. Sibertin-Blanc, Francis Chapelet, António Duarte, João Pedro Oliveira, Rui Paiva, Ton Koopman, João Vaz, Jozef Sluys, José Luis Uriol e Harald Vogel.

Dentro do mesmo programa, tornou-se possível o restauro de dois dos mais importantes instrumentos Portugueses: Igreja de S. Vicente de Fora e Igreja dos Mártires, em Lisboa.

Por fim, a sua intensa actividade, completa-se com o trabalho de produção e orientação artístuca, principalmente em muitas edições de música para tecla, mas também noutros domínios da música Portuguesa.

São de salientar os vários trabalhos com a Nova Filarmonia Portuguesa, sob direcção do Maestro Alvaro Cassuto.

Nesta sua actividade complementar, trabalhou com as editoras Valentim de Carvalho, Polygram, Musicata, e ultimamente como director da parte clássica da Movieplay Portuguesa.

Pena foi não ter podido terminar o trabalho de produção e edição do Conjunto de 10 CDs sobre os principais órgãos Históricos, para a qual já tinham sido gravadas a maioria das obras.

Esperamos que a Movieplay Portuguesa saiba honrar o nome de Simões da Hora e possa, ainda, concretizar este precioso trabalho editoral.

É ainda neste período, que a divulgação das actividades editoriais da música clássica alastra por todo o País, através do Programa radiofónico "Flores da Música", no qual, Simões da Hora , era o principal interveniente.

Além disso, é de salientar as imensas participações em programas, quer na rádio, quer na televisão.

Não pretendemos dar uma ideia completa de toda a obra de Simões da Hora . Outros o poderão fazer melhor.

No entanto, nos cerca de 15 anos do nosso convívio podemos testemunhar ter tido um amigo, um conselheiro e um companheiro.

Um amigo sempre pronto a ajudar, que não escondia a sua opinião, quer fosse positiva ou negativa, sempre num espírito cordial.

O conselheiro que nos ajudou a seguir em frente e a acertar agulhas nesta árdua actividade do restauro.

O companheiro, com quem tive o prazer e a honra de trabalhar, sempre num espírito de melhor servir a Cultura Organística Portuguesa.

Foi este amigo que, todos nós, tão cedo, perdemos.

Obrigado, Simões da Hora !

Complementando esta Biografia, que não pretende ser exaustiva, com a informação das obras editadas em CD e que tiveram a participação de Joaquim Simões da Hora, seguidas das que participou, como produtor ou orientador artístico:

Existem muito mais trabalhos editoriais em que Joaquim Simões da Hora participou, quer como produtor ou director artístico.

Estaremos ao dispor para, em próximos números, completarmos tudo o que for possível.

(António Simões, in "ARS Lusitana Organi, Dezembro 1996)


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