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Jorge Alves Barbosa
"Tenha-se em grande estima, na Igreja latina o órgão tubos, como
instrumento musical tradicional cujo som pode trazer um notável
esplendor às cerimónias eclesiásticas e levantar poderosamente as
almas para Deus e para as realidades celestiais" (Const.
"Sacrosanctum Concilium", n. 120).
"O som destes instrumentos jamais deverá cobrir as
vozes ou dificultar a compreensão do texto" (Instr. "Musicam
Sacram" n.º 20). Pode tocar-se a solo antes da chegada do
sacerdote ao altar, ao ofertório, durante a comunhão e no fim da
missa" (id. n.º 65). O toque a solo destes instrumentos não é
permitido durante o Advento, Quaresma, Tríduo Sacro e nos ofícios
e missas de defuntos" ( Id. n.º 66) |
Todo o mistério do órgão está encerrado nos pequenos registos que o
génio humano roubou a essa infinita série de harmónicos que a mãe
natureza dá a cada nota. Está carregado de tais mistérios que, ao mesmo
tempo, apaixona e incomoda a muita gente: organeiros e organistas,
arquitectos e engenheiros, músicos e musicólogos, teólogos e
liturgistas... trata-se de um instrumento muito diferente dos outros e
muito mais ainda da voz humana. O órgão nasce do vento e das rochas,
isento da possibilidade de modulação e expressividade que garantem os
instrumentos de corda e mesmo os de sopro accionados directamente pelo
homem; o órgão garante uma estabilidade e segurança que se unem e se
transformam numa dimensão de majestade que o tornam único.
Nas nossas igrejas, ele representa a voz desencarnada de
Deus: majestade, temor, reverência, clareza de sons, qualidade do
conjunto, são características que hoje definem um enquadramento
verdadeiramente eclesial do órgão, mesmo que o possamos executar e ouvir
numa sala de concerto. A forma como a maior parte dos compositores,
mesmo os mais modernos, aborda a composição organística e o respeito que
a respectiva literatura impõe são reveladores dessa dignidade de um
instrumento que une a mente humana à mente do Criador.[i]
[i]
Parafraseámos um pouco as palavras de SAMUEL RUBIO ALVAREZ, "El
Organo en la liturgia hoy" in La Musica en la Iglesia de hayer a
hoy, p. 250-261.
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